terça-feira, 16 de abril de 2013

Leitura terapêutica

Marcelo Andrade / Gazeta do Povo /

Biblioterapia clínica recomenda livros para aliviar sintomas decorrentes de tratamentos de saúde, como angústia, solidão e insônia

A leitura engrandece a alma, escreveu uma vez Voltaire. A frase do pensador iluminista mostra o potencial do livro para agregar conhecimento, abrir portas para a imaginação e servir de refúgio para os problemas diários. Entusiastas de biblioteca defendem que ler tem poderes mágicos e pode ajudar a curar. A realidade não está muito longe disso. Médicos e psicólogos indicam a leitura para aliviar sintomas de diversas patologias. A prática recebe o nome de biblioterapia clínica, definida como a recomendação de livros para aliviar angústias pessoais, estimular emoções, promover o diálogo e ajudar pessoas com insônia.
“A biblioterapia mostra um cuidado com o ser humano, que se manifesta ao ler, narrar ou dramatizar histórias”, diz a professora Clarice Caldin, do departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista no tema, ela explica que as narrativas literárias buscam proporcionar a catarse, considerada por alguns autores como uma purificação do corpo e da mente.
Por meio da leitura, as pessoas podem se identificar com personagens ficcionais, refletindo suas próprias atitudes. “O objetivo da biblioterapia é favorecer a expressão dos pensamentos aflitivos, como uma descarga emocional, uma purgação”, observa.
Histórias
A administradora Roseli Bassi percebeu esse potencial terapêutico da leitura e criou a ONG História Viva, que conta com um time de 200 voluntários especializados em ler e contar histórias para pacientes de hospitais. “Nosso trabalho é apaziguar os sentimentos de pessoas que estão lidando com realidades difíceis. Tiramos crianças e adultos de suas doenças ao abrir um mundo de imaginações”, afirma.
Julia Dutra, 10 anos, luta contra o câncer desde 2008. Durante alguns dias da semana, em seu quarto no Hospital das Clínicas, em Curitiba, ela recebe a visita de um contador de histórias, que lê para a menina por cerca de uma hora. No período, suas preocupações se tornam disputas entre monstros, desafios de leões e castelos de princesas. A narrativa vira uma distração, que a anima. “É uma parte do dia que adoro”, diz a menina.
Antes de sair, o voluntário deixa um recado para os pais de Julia. “É recomendado que vocês leiam para ela também, isso ajuda a fortalecer o interesse dela.” Além de distrair e relaxar, a biblioterapia por meio de contadores de histórias incentiva a aproximação com o livro.

Benefícios
Na realidade hospitalar, a leitura tira o paciente de sua rotina, de sua espera. Existem pessoas que usam livros, revistas e jornais para enfrentar a cadeira antes de serem atendidos em um consultório. “É importante que cada um saiba o tipo de leitura que o ajuda. Geralmente são as que mais agradam”, aponta Ítala Duarte, psicóloga clínica do Hospital Erasto Gaertner. O efeito terapêutico depende da disposição do paciente diante da leitura.
Um livro antes de dormir, por exemplo, pode ajudar pessoas com insônia. O médico Attilio Melluso Filho, do Centro de Distúrbios do Sono de Curitiba, diz que quanto menos alarmante e repetitiva for a narrativa, melhor a condução para a latência do sono, período que antecede o adormecer. A leitura engrandece a alma e também faz bem para a saúde.

Companhia para a solidão
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo


Na sala de diálise da Santa Casa de Curitiba, Florisbal Costa passa algumas tardes lendo livros e jornais. Em tratamento por conta de um problema de rim há três anos, ele usa a leitura para combater a solidão. “Ler direciona o cérebro das pessoas sozinhas. Faz a gente pensar no que é bom”, diz.
Com 101 anos, o vendedor aposentado vive na companhia de uma enfermeira, que o ajuda. Há vários anos, pratica a rotina diária de ler jornais e revistas. “Assim me conecto com o mundo.” Como passa mais da metade da semana no hospital, a companhia dos livros também o mantém distraído.
A leitura é estimulada para pacientes em diálise. O médico Georgio Sfredo Bertuzzo, da Santa Casa, diz que as narrativas literárias ajudam a conter a ansiedade. Afinal, são várias horas em que os pacientes não fazem nada a não ser esperar. Costa faz a sua parte, além de ler muito, ele troca livros com outros pacientes.

Recuperação por meio de livros
Letícia Akemi/Gazeta do Povo


Para Victor D’Ambrós, 12 anos, os livros são mais importantes do que os filmes. Prefere histórias de ação, que tenham alguma coisa a ver com os videogames que joga. A prática da leitura é bastante útil no período em que fica no hospital ou em casa, se recuperando de quimioterapias.
Victor descobriu que tem sarcoma de Ewing, um tipo de câncer que atinge os ossos, em julho do ano passado. Está reagindo bem ao tratamento, mas precisou se afastar da escola e dos amigos. “A leitura o ajuda a passar o tempo e o deixa animado”, conta a mãe, a professora Kátia D’Ambrós.
“Gosto de ler à noite, antes de dormir”, diz o menino. A ficção literária o leva para outros mundos, que envolvem vilões, guerras mundiais e as aventuras de crianças em escolas. Apesar de colocar os livros na frente dos filmes, quando não está no hospital coloca os jogos de videogame no topo da lista de preferências. O que não deixa de ser uma distração terapêutica.
Fonte:

LER PARA LIDAR COM OS MALES DA ALMA


Ao escolher um bom livro, o leitor pode viajar para outro espaço e época e conhecer personagens únicos que podem marcá-lo para sempre. Quem costuma ler sabe bem como é. Já foi comprovado que os benefícios vão além do entretenimento. Desde as antigas civilizações acreditava-se que a leitura poderia proporcionar alívio às enfermidades. Porém o nome específico de biblioterapia (terapia por meio de livros) surgiu apenas no século XX. Inicialmente, ela era recomendada para pessoas portadoras de conflitos internos como depressão, medos, fobias e para idosos. Hoje, após anos de pesquisa, sabe-se que a leitura terapêutica pode trazer diversos benefícios para diferentes tipos de pessoas em faixas etárias distintas.

Essa terapia complementar pode ser aplicada em grupo ou individualmente. De acordo com Lucélia Paiva, autora do livro A arte de falar da morte para crianças (Editora Ideias & Letras), a leitura proporciona o aumento da autoestima e pode ser aplicada em processos de desenvolvimento pessoal, educacional ou em quadros clínicos. “As histórias podem levar a mudanças, pois auxiliam o indivíduo a enxergar outras perspectivas e distinguir opções de pensamentos, sentimentos e comportamentos, dando oportunidades de discernimento e entendimento de novos caminhos saudáveis para enfrentar dificuldades”, diz.

Para quem é indicada a terapia complementar?
a prática tem sido usada em várias situações clínicas, na qualidade de terapia complementar. Confira:
- luto (divórcio ou morte)
- depressão
- hospitalizações
- falta de perspectiva na vida
- doenças crônicas
- dificuldades para se relacionar
- presidiários
- idosos
- dependências
- traumas
- ansiedade
- desemprego
- estresse e bullying

Para Clarice Fortkamp Caldin, autora do livro Biblioterapia: um cuidado com o ser (Porto das Ideias Editora), a leitura, ao descortinar um outro mundo, uma outra realidade, permite ao ser humano exercitar o imaginário, assumir as características de determinados personagens especialmente admirados, refletir sobre suas atitudes e aliviar suas angústias. “Isso só acontece com a leitura do ficcional, que permite a liberdade de interpretações”, afirma. Além de todos esses benefícios, a biblioterapia também amplia a compreensão intelectual, desenvolve senso de pertencimento, dá inspiração, corrige ou elimina comportamentos nocivos ou confusos, e além disso pode diminuir a ansiedade e a solidão.

Profissionais como psicólogos, educadores, bibliotecários e assistentes sociais, quando bem preparados e treinados, podem aplicar a terapia por meio de livros. O especialista, primeiramente, identifica o problema a ser tratado, para depois selecionar a obra que será utilizada. Em seguida, são feitos o compartilhamento das experiências e o acompanhamento do impacto do material escolhido.

Conheça as etapas da biblioterapia
O leitor se envolve com a trama ou com o personagem da história (envolvimento) e identifica-se com o caráter ou com a experiência apresentados no livro (identificação). Ao identificar-se, o indivíduo sente alívio pelo reconhecimento de que outros têm adversidades similares. Os dilemas resolvidos com sucesso na obra farão com que o leitor realize uma tensão emocional associada aos seus próprios problemas (catarse). Desta forma, ele pode querer aplicar o que aconteceu na história fictícia à sua vida. Em seguida, a semelhança dos problemas da trama com a sua realidade faz com que o leitor chegue a uma etapa final (universalidade), onde consegue compreender outros problemas similares.

Ao ler um texto, o indivíduo constrói um texto paralelo, ligado às suas experiências e vivências pessoais, o que o torna diferente para cada leitor. A literatura tem o poder de mexer com as emoções porque admite a suspensão temporária do que se conhece por descrença. Isso significa que durante a leitura, ele passa a acreditar nos acontecimentos dos livros e esquece dos próprios problemas, causando o bemestar e assim diminuindo a dor.

"Com a leitura terapêutica o leitor se distancia de sua própria dor e também é capaz de expressar seus sentimentos e ideias, possibilitando uma percepção mais aguçada de sua situação de vida. A partir daí desenvolve-se ainda uma forma de pensar criativa e crítica. Ler também diminui o sentimento de solidão, e estimula uma maior empatia com outras pessoas"
Fonte: Viva Saudável

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Biblioterapia: a leitura que traz saúde pode fazer parte do SUS

Projeto de Lei em trâmite na Câmara Federal quer levar procedimento para todos os hospitais do país. 

Por Elizângela Isaque - Da Equipe Medicando 


A leitura indicada para tratar desordens de insônia, por exemplo, requer textos de leitura lenta e repetitiva. Já as ficções romanceadas ajudam na elaboração de conflitos pessoais, sendo indicadas para diferentes problemas psiquiátricos, como a poesia, para os esquizofrênicos
A utilização da literatura para tratar pacientes com transtornos psíquicos e emocionais, modalidade terapêutica conhecida como biblioterapia, tem crescido em de todo o mundo. Centros de pesquisa como o Veterans Administration – que cuida da saúde dos militares americanos – e o Instituto Sonia-Shankman para crianças psicóticas, em Chicago, afirmam que essa prática tem sido uma importante aliada de tratamento de disfunções como, distúrbio do sono, depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, dependência química e principalmente na prevenção de várias doenças.

 E é com base nessas referências que o deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS) criou um projeto de Lei, que visa incluir a biblioterapia em todos os hospitais públicos do país e naqueles contratados ou conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No documento, um dos argumentos do parlamentar destaca que, além de humanizar o ambiente hospitalar essa técnica, de acordo como a doença, ameniza em até 80% os sintomas dos pacientes.

O que é

Em linhas gerais, a biblioterapia pode ser definida como a prescrição de materiais de leitura com função terapêutica, que abrange tanto a leitura de estórias, com comentários adicionais, quanto a interpretação de texto. Registros históricos demonstram que ela é utilizada desde a Idade Antiga e que a utilização da leitura como coadjuvante em tratamentos médicos tem sido recomendada desde o século 19.
Por meio da biblioterapia, profissionais habilitados – psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras e bibliotecário com formação terapêutica – selecionam o conteúdo literário a ser direcionado ao paciente de acordo com o tipo, tamanho dos textos e ritmo de leitura, entre outros aspectos, Ou seja, para cada disfunção psíquica ou de ordem emocional é escolhido o material específico de acordo com os resultados desejados.
Nesse sentido, a leitura indicada para tratar desordens de insônia, por exemplo, requer textos de leitura lenta e repetitiva, ao invés de romances que caráter excitante. Por outro lado, ficções romanceadas podem ajudar na elaboração de conflitos pessoais, por isso são indicadas para diferentes problemas psiquiátricos. Especialistas afiram que alguns pacientes psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação a poesias e outros textos altamente simbólicos.

Embora no Brasil a importância da biblioterapia ainda não seja de conhecimento de grande parte dos profissionais e, consequentemente, pouco utilizada na maior parte do país, Cherini destaca que, em várias localidades esse quadro apresenta mudanças.  “Hoje, vem sendo desenvolvida por equipes interdisciplinares com constante participação dos bibliotecários, psicólogos e médicos, sendo no Brasil as regiões Sul e Nordeste as que concentram os maiores índices de aplicabilidade”, afirmou.

A Sociedade Brasileira de Biblioterapia Clínica, localizada na cidade de Embu, em São Paulo, é a primeira organização criada especificamente para a formação de profissionais específicos para o exercício da função, com conhecimento de diversas áreas ligadas ao tema. Além disso, ela busca desenvolver pesquisas e ações acerca do tema, agregando conceitos das áreas médicas e educacionais.
Autorização
Pela proposta do deputado Cherini, os materiais de leitura com função terapêutica só poderão ser prescritos e vendidos após autorização específica do Ministério da Saúde. Os livros autorizados terão um selo com a inscrição “Recomendado pelo Ministério da Saúde”.

O projeto prevê, ainda, que os familiares dos pacientes também poderão participar das atividades de biblioterapia, desde que após prescrição médica, e autoriza a venda de obras biblioterápicas em farmácias, drogarias e livrarias.
Tramitação
O projeto, que tramita em *caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
*Caráter conclusivo - Rito de tramitação pelo qual o projeto é votado apenas pelas comissões designadas para analisá-lo, dispensada a deliberação do Plenário. O projeto perde o caráter conclusivo se houver decisão divergente entre as comissões ou se, independentemente de ser aprovado ou rejeitado, houver recurso assinado por 51 deputados para a apreciação da matéria no Plenário.
Fonte: Agência Câmara de Notícias/ Uol

Disponível em: http://www.medicando.com.br/conteudo/destaque/biblioterapia-a-leitura-que-traz-saude-pode-fazer-parte-do-sus - Acesso em 12/04/2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

Leitura: um hábito para a vida inteira que pode começar antes de nascer

Ana Lúcia Caldas - Repórter do Radiojornalismo




A escritora Alessanda Roscoe defende o Aletramento Fraterno (Portal de Notícias do Senado / www.senado.gov.br)
Brasília - Iniciativas de incentivo à leitura se espalham por todo o país. No Distrito Federal, a escritora Alessanda Roscoe defende o Aletramento Fraterno que consiste em ler para os filhos ainda durante a gravidez. O nome tem uma razão de ser: estimular o hábito da leitura em uma criança é uma tarefa que pode envolver toda a família.

Autora de 17 livros, a escritora conta que, desde a primeira gravidez, lê em voz alta para os filhos. Quando ficou grávida pela terceira vez, a parceria com o marido e os filhos se intensificou. “Aos poucos, meus filhos mais velhos e meu marido foram entrando no ritual e tivemos excelentes momentos lendo para a barriga”, diz.

Leia mais:

Alessandra faz oficinas sobre o assunto e orienta “casais grávidos”. É dela também a ideia do clube de leituras para bebês, o Uni Duni Ler. “É maravilhoso ver como eles curtem, interagem e adquirem intimidade com as histórias e os livros”.

O clube surgiu em 2010 na creche da filha, Luiza. Cada um dos responsáveis pelas crianças comprou dois livros de uma lista de 30 para que o acervo fosse montado. Mesmo com a participação ativa dos pais, quem escolhe o que levar para casa são as crianças, nas cirandas literárias promovidas semanalmente. Alessandra esclarece que os bebês não leem, mas olham e folheiam os livros e até contam as histórias do seu jeito.

Atualmente, o clube tem 21 sócios efetivos e conta com os amigos do Uni Duni Ler, cerca de 200 pessoas. “O espaço do clube é restrito porque funciona em uma creche, mas promovemos encontros festivos, dos quais todos podem participar”. A escritora ressalta que nesses encontros, muitas vezes são trazidos convidados, no caso, os autores dos livros lidos no clube.

Segundo ela, é preciso respeitar o ritmo dos pequenos, que pedem para ler sempre as mesmas histórias. “Os estudos explicam que a repetição faz parte do desenvolvimento das crianças na primeira infância, elas pedem para ouvir a mesma história infinitas vezes por quererem ver se tudo será como da primeira vez, sentem-se seguras quando já conhecem o final”, ressalta.
A bancária Fernanda Martins Viana é mãe de dois sócios do clube: Carlos, mascote do grupo, de um ano e dez meses e Gabriel, de cinco anos. Para ela, a iniciativa tem que ser copiada. “Nós nos tornamos também leitores. Eu espero ansiosamente o dia do encontro, que me leva para o universo infantil.”

Segunda ela, o filho mais velho já expressa o quanto gosta e o mais novo já está totalmente à vontade nesse mundo. “Ele senta no colo de um pai, ouve um pouco, depois vai para outro. Carlos começa a ter uma intimidade com o livro, que não se torna uma obrigação.”


A criança que é incentivada a ler desde cedo vai criar com o livro uma relação de afeto, diferente daquele que é obrigada a ler. Por isso, a escritora defende que a ideia do clube do livro seja replicada. “É fácil, basta apenas ter uma mala com livros”.


As histórias da escritora surgem de situações que vive com os filhos e com outras crianças. Entre as obras publicadas estão
 A Fada Emburrada; O Jacaré Bile; O Menino que Virou Fantoche; Caixinha de Guardar o Tempo e o Guia de Leitura Para Bebês e Pré-Leitores Uni Duni Ler, que já foi distribuído em creches e escolas públicas no Rio Grande do Sul.

Um dos livros de Alessandra, escrito com a filha Beatriz quando tinha 5 anos de idade, inspirou o curta-metragem de animação
 A Menina que Pescava Estrelas, de 2008.

Edição: Tereza Barbosa

Fonte: 
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/04/leitura-um-habito-para-a-vida-inteira-que-pode-comecar-antes-de-nascer - Acesso em 02/04/2013

Juiz propõe redução da pena para detentos do Presídio de Joinville que se dedicarem à leitura

Projeto de João Marcos Buch é levar leitura aos condenados e, após avaliação de resumo da obra feito pelo próprio detento, beneficiá-lo com redução de pena.


Juiz propõe redução da pena para detentos do Presídio de Joinville que se dedicarem à leitura Diorgenes Pandini/Agencia RBS
João Marcos Buch espera montar biblioteca no presídio com doações de pelo menos 300 livros e, então, dar início à experiênciaFoto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS
Roelton Maciel - roelton.maciel@an.com.br

Quem passa os dias atrás das grades em Joinville pode ter uma nova chance nos próximos meses de virar a página em busca da liberdade. É por meio da leitura que o juiz da Vara de Execução Penal, João Marcos Buch, pretende garantir mais uma possibilidade de redução de pena à população carcerária que cumpre condenação.

Opine: O que você acha da proposta?

A ideia é que 20 dias de leitura possam reduzir até três dias da sentença aplicada. Caberia aos detentos a tarefa de escrever um resumo sobre a obra lida. Como não há pessoal suficiente para avaliar a produção dos presos, o próprio juiz se dispõe a receber os manuscritos no gabinete e conferir cada trabalho.

— Falo com uma certa experiência de autoria, pois já publiquei uma obra de literatura e um livro técnico. Considero a leitura um dos principais caminhos para a libertação do homem, de maneira geral —, defende o juiz.

O projeto só não é colocado em prática ainda porque apenas a Penitenciária Industrial conta com biblioteca. O Presídio Regional tem uma sala disponível, mas faltam livros. A busca pelas obras está sob responsabilidade da direção da unidade e de voluntários do Conselho Carcerário.

A meta, diz Buch, é somar entre 300 a 400 títulos para dar início à experiência. Ainda no primeiro semestre, acredita o juiz, os internos do presídio e da penitenciária poderão contar com o benefício.

— Vou disciplinar por meio de uma portaria o funcionamento disso. É, de certa forma, uma medida simples. O preso escolherá um livro e ele mesmo vai fazer uma carta, um resumo do que leu, dentro de suas condições. Não será uma prova —, aponta.

A escolha dos livros, reforça Buch, não será pré-determinada pelo Judiciário. Segundo o juiz, o plano é que sejam colocadas à disposição dos presos obras adequadas à condição deles, conforme orientação pedagógica.

Ainda que dê o pontapé inicial da medida como uma missão pessoal, João Marcos Buch prevê o fortalecimento do programa numa eventual parceria com a biblioteca pública e profissionais da área de letras.

Professora aprova iniciativa

Oferecer leitura aos presos, avalia a professora Taiza Mara Rauen Moraes, significa construir uma sociedade mais democrática. Mestre em literatura brasileira e doutora em teoria da literatura, a especialista defende que não se pode desacreditar na recuperação dos detentos.

— Não se pode subestimar o sujeito ou achar que, por estar encarcerado, ele não tem possibilidade de recuperação. A prisão é decorrente do estreitamento de visão, da falta de oportunidades. Nesse espaço, ele pode abrir perspectivas. Se a leitura atingir um entre dez detentos, já está valendo —, raciocina. 

Coordenadora do programa Proler na Univille - voltado ao incentivo da leitura fora do círculo escolar -  a professora concorda com a liberdade de opção na escolha dos livros. 

— Deve-se permitir que o sujeito construa leituras a partir de sua formação. Observamos que é possível trabalhar com níveis de leitura. A própria pessoa vai se tornando mais crítica —, analisa.

Em prática desde 1994 em Joinville, o Proler ainda não incluiu o sistema prisional no programa. Em outras regiões do País, diz Taiza, já houve mobilização no meio carcerário com resultados positivos. 

ENTENDA A IDEIA

- Só podem reduzir pena os presos que já foram sentenciados, ou seja, que cumprem um período determinado de condenação.

- A Lei de Execuções Penais prevê a troca de parte do tempo da pena por estudo ou trabalho. O detento do regime fechado ou semiaberto pode optar por 12 horas de frequência escolar ou três dias de trabalho no lugar de um dia de pena.

- Como no Presídio Regional há centenas de presos provisórios (ainda não sentenciados), eles também terão acesso aos livros, mas sem redução de eventual pena.

Onde já tem

Apesar de incomum, a iniciativa do juiz João Marcos Buch não é inédita no Estado. No ano passado, o projeto Reeducação do Imaginário foi implantado em Joaçaba. Obras clássicas foram distribuídas aos presos, que respondem sobre as leituras em entrevistas com o juiz e assessores.

Fonte: 

Por que o Dia Internacional do Livro Infantil é em 2 de abril?

Saiba as origens da literatura infantil e veja como chegamos a Chapeuzinho amarelo e lobo do bem.

Dia 2 de abril é o Dia Internacional do Livro Infantil. Cumprindo a missão de introduzir as crianças aos encantamentos das letras, essas obras servem também para transmitir juízos de moral e valores da sociedade em que se inserem. Por isso, tantas adaptações de diversos clássicos já foram feitas. Na primeira, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho acabava na barriga do lobo, devorada, assim como sua vovozinha.

Dia 2 de abril foi escolhido como o Dia Internacional do Livro Infantil em homenagem ao nascimento de Hans Christian Andersen Foto: Getty Images
Dia 2 de abril foi escolhido como o Dia Internacional do Livro Infantil em homenagem ao nascimento de Hans Christian Andersen
Foto: Getty Images

O dia 2 de abril foi escolhido em homenagem ao nascimento de Hans Christian Andersen, em 1805. O escritor dinamarquês é considerado o primeiro autor a romancear as fábulas voltadas especialmente para crianças. Assim como as histórias antigas, Andersen também se preocupava com a transmissão de moral e valores, ressaltando a disputa entre poderosos e figuras mais fracas. Calcula-se que o dinamarquês tenha escrito mais de 150 histórias, entre elas O Patinho FeioA Pequena SereiaA Roupa Nova do Rei e A Polegarzinha.
No Brasil, grandes nomes como Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga, Ruth Rocha, Ziraldo e Bartolomeu Campos de Queirós são responsáveis, ao lado de tantos outros, pelo gosto de muitas crianças pelo mundo dos livros. Por aqui, contudo, celebramos em 18 de abril o Dia Nacional do Livro Infantil. A data lembra o nascimento de Monteiro Lobato, o pai do gênero no País. Além de suas obras, o autor também traduziu e adaptou clássicos mundiais comoAlice no País das Maravilhas e Robin Hood.
As escolas também têm um papel importante nessa jornada. É lá que os pequenos têm o primeiro contato com muitos livros e histórias, ampliando as percepções e impressões de mundo. Contudo, Edna Bueno, especializada em Literatura Infantil e Juvenil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enxerga falhas na atuação dos colégios. "Considero que um bom trabalho com a literatura é oferecer um cardápio variado de livros para que a criança faça sua escolha. É preciso experimentar e sentir-se livre. Não acho uma boa ideia usar a leitura de livros para nota", critica.

Charles Perrault é considerado o Pai da Literatura Infantil Foto: Getty Images
Charles Perrault é considerado o Pai da Literatura Infantil
Foto: Getty Images

Era uma vez...
Era uma vez um francês que nasceu em Paris em 1628. De todos os muitos franceses nascidos em Paris em 1628, esse tinha algo especial: poeta e escritor, veio a ser reconhecido como o Pai da Literatura Infantil. Charles Perrault também foi advogado e exerceu algumas atividades como superintendente do Rei Luís XIV, mas isso é menos interessante. O que realmente importa em sua vida são suas obras literárias.
Tudo começou quando, já idoso, resolveu registrar as histórias que ouvia de sua mãe e também nos salões parisienses. Absorvendo e transcrevendo esses relatos, criou o gênero do conto de fadas. Essa compilação de histórias folclóricas foi publicada em 1697 com o título de Histórias ou contos do tempo passado com moralidades, mas ficou célebre com seu subtítulo Contos da mamãe gansa. Na obra estão as famosas histórias Chapeuzinho VermelhoA Bela AdormecidaO Pequeno PolegarCinderelaBarba Azul e O Gato de Botas, entre outras.

Primeiras fábulas de Jean de La Fontaine foram publicadas em 1668 Foto: Getty Images
Primeiras fábulas de Jean de La Fontaine foram publicadas em 1668
Foto: Getty Images

Antes dos contos de fadas
Ainda antes das histórias de fadas já existiam os contos. O pai desse gênero é outro francês, mas este nascido fora de Paris e sete anos antes, em 1621. Assim como Perrault, Jean de La Fontaine também atuou em funções burocráticas (inspetor de águas, por exemplo, cargo herdado do pai), mas foi no mundo das letras que se realizou.
Suas primeiras fábulas foram publicadas em 1668, em um volume intitulado Fábulas Escolhidas, uma coletânea de 124 histórias. Com o tempo, novas edições foram lançadas e novos contos, acrescentados. Os mais famosos são A Lebre e a TartarugaO Homem, O Menino e a MulaO Leão e o Rato e O Carvalho e o Caniço, todas envolvendo personagens animais e trazendo um fundo moral. Algumas das obras são creditadas ao grego antigo Esopo.

Irmãos Grimm dedicaram a vida ao registro das memórias e lendas populares da Alemanha Foto: Getty Images
Irmãos Grimm dedicaram a vida ao registro das memórias e lendas populares da Alemanha
Foto: Getty Images

E os Irmãos Grimm?
Na história da literatura, os irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm são tão importantes quanto os franceses. Eles dedicaram a vida ao registro das memórias e lendas populares da Alemanha, que até então eram transmitidas somente por via oral. Porém, quando contadas, essas histórias nem sempre eram voltadas para o público infantil. Coube aos Grimm alterar (ou descartar) aquelas que não passavam uma mensagem positiva ao final. Clássicos comoChapeuzinho VermelhoCinderelaRapunzelBela Adormecida e João e Maria foram adaptados por eles.
O que poucos sabem é que, além da compilação dessas histórias infantis, eles também fizeram significativas contribuições à gramática alemã: elaboraram, conjuntamente, o Grande Dicionário da Língua Alemã, primeiramente publicado em 1854.
Em 2005, eles foram parar no cinema com o filme Os Irmãos Grimm, que misturou um pouco da história dos irmãos com o mundo fantástico das histórias exploradas por eles.
Mas que boca grande, vovozinha!
Amplamente difundida, provavelmente toda criança ocidental já ouviu a história de Chapeuzinho Vermelho: uma menina vestida com capa vermelha atravessa a floresta para levar uma cesta de doces para sua avó, que está doente. Na floresta, ao chegar a uma bifurcação, ela tem de escolher entre um caminho longo e seguro ou um curto e perigoso. Chapeuzinho escolhe o segundo e, assim, encontra um lobo, que a aconselha a voltar e tomar o outro caminho. A menina segue o conselho e, enquanto isso, o lobo corre até a casa da avó, a devora, veste suas roupas e aguarda a chegada de Chapeuzinho. Quando a menina chega, eles trocam o célebre diálogo onde ela estranha a aparência da avó. Quando Chapeuzinho pergunta sobre a boca da vovozinha, o animal mostra quem realmente é e a devora também. Fim.
Sim, acabou. A história original, de Charles Perrault, acaba com a vovozinha e Chapeuzinho Vermelho devoradas pelo Lobo Mau. Foram os Irmãos Grimm que introduziram o caçador no conto, que mata o animal e abre sua barriga para retirar as duas com vida lá de dentro. Uma versão ainda mais leve conta que o lobo prende a avó em um armário enquanto espera a Chapeuzinho.
Chapeuzinho amarelo?
Além de serem devoradas pelo Lobo Mau ou salvas no último minuto pelo caçador, Chapeuzinho Vermelho e sua vovozinha também ganharam diversas outras versões: Andrew Lang, escritor escocês, substituiu o vermelho por dourado e disse que a menina, na verdade, foi salva pelo capuz de ouro que usava, que queimou a boca do lobo. Os brasileiros Guimarães Rosa, Dalton Trevisan e Maurício de Sousa também criaram versões do clássico. Chico Buarque escreveu Chapeuzinho Amarelo, releitura sem avó ou caçador, mas com uma Chapeuzinho que tem medo do medo. Ao fim, o medo vira companheiro e o lobo, bolo. Até lobo do bem já foi inventado. Deonísio da Silva recontou a história invertendo papeis: um lobo que não é mau e um caçador que não é herói. A versão moderna propõe a discussão de relações familiares e respeito às pessoas e aos animais.
Era uma vez, no Brasil...
O nascimento da literatura infantil brasileira se deu em um duelo de xadrez entre Monteiro Lobato e Toledo Malta. Durante a partida, Malta contou uma fábula na qual um peixe sai do mar, desaprende a nadar e, ao retornar às águas, morre afogado. Lobato perdeu a partida, mas o Brasil ganhou muitas boas histórias: a partir do relato do amigo, escreveu A História do Peixinho que Morreu Afogado, conto que originou A Menina do Narizinho Arrebitado, lançado em 1920. A obra deu início ao gênero no País e é também o princípio das histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Edna Bueno, especialista em literatura infantil, define: "Monteiro Lobato inaugurou uma literatura infantil preocupada com uma linguagem própria para as crianças, antenada com seu universo; não um olhar de cima para baixo, mas um olho no olho".


O Brasil tem diversos outros autores célebres na área, destacando-se Ana Maria Machado, Lygia Bojunga, Ruth Rocha, Ziraldo, Bartolomeu Campos de Queirós, Tatiana Belink, Cecília Meireles, Pedro Bandeira e Mary França, entre incontáveis outros nomes relevantes.
As brasileiras premiadas
A literatura infantil tem uma espécie de "Prêmio Nobel": é o troféu Hans Christian Andersen, concedido a cada dois anos para os destaques do gênero pela International Board on Books for Young People, órgão filiado à Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. A primeira edição do prêmio foi em 1956, e Eleanor Farjeon, escritora britânica, foi a agraciada.
Somente em 1982 o troféu saiu do eixo Europa-Estados Unidos, premiando a brasileira Lygia Bojunga. Ela é considerada uma espécie de sucessora de Monteiro Lobato. Em 2000, Ana Maria Machado repetiu o feito e trouxe o troféu mais uma vez para o Brasil. Na próxima premiação, em 2014, concorrerão os brasileiros Joel Rufino dos Santos (escritor) e Roger Mello (ilustrador).